A consultora Oxford Economics Africa considerou hoje que Angola não deverá ver o seu ‘rating’ melhorar novamente este ano devido às grandes necessidades de financiamento e aos riscos que isso comporta. Também hoje se ficou a saber que a privatização da companhia aérea TAAG não deverá acontecer antes de 2023 ou 2024.
“Mais melhorias no nível de crédito são improváveis este ano, dadas que as necessidades financeiras e os riscos desse financiamento continuam relativamente elevadas”, escrevem os analistas da Oxford Economics Africa num comentário à melhoria do ‘rating’ por parte da Standard & Poor’s, na sexta-feira.
“Sem surpresas”, apontam, a S&P melhorou a opinião sobre a qualidade de crédito de Angola de CCC para B-, seguindo o exemplo da Fitch Ratings, na semana anterior, e da Moody’s, ainda no ano passado.
“As necessidade de financiamento resultantes das amortizações de dívida externas deverão aumentar a partir de 2023, quando as operações ao abrigo da Iniciativa para a Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI) expirarem”, escrevem os analistas na nota enviada aos clientes.
Para estes analistas, o preço do petróleo ficará nos 80 dólares por barril no final deste ano e deverá cair para 65 dólares até 2024, já que “a oferta global acompanhará o aumento na procura global”.
Esta descida de preço, afirmam, “causará uma estagnação no crescimento das receitas petrolíferas durante 2023 e 2024, o que colocará pressão adicional nas necessidades de financiamento” de Angola.
Além disso, concluem: “Outro risco adicional negativo face à nossa previsão de métricas orçamentais mais fortes a médio prazo, é se o crescente descontentamento com o actual governo e a conclusão do programa com o Fundo Monetário Internacional levaram a uma excessiva despesa pública num contexto de eleições gerais, este ano”.
A agência de notação financeira Standard & Poor’s melhorou na sexta-feira o ‘rating’ de Angola para B-, prevendo que a economia já tenha saído da recessão no ano passado, ao crescer 0,2%, e acelerando para 2,3% este ano.
“O programa de reformas do Governo, os preços mais altos do petróleo, e o alívio da dívida de alguns credores oficiais estão a reduzir os riscos imediatos de liquidez, antevemos que a recuperação económica e uma depreciação da moeda menor que entre 2018 e 2020 sustentem um declínio continuado no nível da dívida, por isso melhorámos o ‘rating’ de Angola de CCC+ para B-“, lê-se numa nota da Standard & Poor’s.
Na nota, a S&P explica que atribui uma perspectiva de evolução estável à avaliação sobre a qualidade do crédito, equilibrando “as ainda grandes necessidades externas de financiamento e os riscos associados, com a queda gradual dos níveis de dívida governamental até 2025”.
TAAG remete privatização para 2023 ou 2024
A privatização da companhia aérea TAAG não deverá acontecer antes de 2023 ou 2024, face aos efeitos da pandemia de Covid-19 sobre a economia mundial e a aviação, admitiu hoje o presidente executivo da transportadora angolana.
“Lamentavelmente continuamos em pandemia o que afectou muitos países, sobretudo na Europa e América do Sul, e não sabemos quando vai acabar”, afirmou Eduardo Farien Soria em Luanda, numa conferência de imprensa, durante a qual o novo Conselho de Administração fez um balanço dos seus primeiros 100 dias à frente da TAAG, que têm tido como foco a contenção de custos, liquidez e antecipação da procura. Segundo o responsável, a variante do coronavírus Ómicron obrigou a rever novamente os planos das empresas.
“Estamos num cenário muito instável e uma privatização neste cenário não parece a melhor decisão”, continuou, dizendo que a empresa está a aproveitar para “ir crescendo e fazer poupanças”, pelo que só em finais de 2023 ou 2024 deverá estar em condições para ser vendida ou encontrar novos parceiros.
“As empresas valem o que estamos dispostos a pagar por elas. O valor da TAAG é claramente superior ao valor que tinha quando chegámos, mas ainda estamos longe de entrar num processo de privatização ou parceria”, considerou.
O objectivo da equipa de gestão é “vestir muito bem a noiva” e deixar a companhia preparada para quando chegar o momento de fazer avaliações.
“Agora não é um bom momento para encontrar um investidor porque muitas companhias aéreas estão com muitos problemas, possivelmente em 24 meses teremos um cenário global, e não só em Angola, algo diferente. Agora é um exercício de pura sobrevivência a nível global”, complementou Eduardo Soria.
O presidente executivo da TAAG abordou também o tema da renegociação das dívidas e dos contratos, afirmando que se pode conseguir poupanças significativas, se for feito com tempo e transparência.
A empresa tem conseguido poupar cerca de 20% tanto nos novos contratos como na renegociação de dívidas anteriores, gerando “poupanças significativas”, o que permitirá “criar uma base de custo da operação que permita competir com outras companhias, umas que estão aqui [Angola] a operar e outras que vão vir por que a TAAG tem de competir no mercado internacional”, comentou.
A presidente do conselho de administração da empresa, Ana Francisco Major, salientou no balanço dos 100 dias que a actual equipa recebeu a TAAG “com uma fragilidade agravada pela pandemia”, tendo posto em prática várias mudanças operacionais para assegurar a sobrevivência da companhia, e destacando alguns resultados alcançados, nomeadamente a nível de tesouraria que passou de 6 para 180 dias de caixa.
Também no campo das melhorias apontou o facto de se ter passado a concentrar numa só área as compras que antes estavam deslocalizadas, prosseguindo-se o diagnóstico da empresa para travar o sangramento de recursos financeiros, já que a equipa continua a encontrar todos os dias “algumas surpresas”.
Dentro do processo de restruturação de que a TAAG está a ser alvo, cabem também as relações de trabalho e a busca de recursos próprios para que a transportadora não dependa apenas do suporte do Estado, acrescentou.
Questionado sobre o valor da dívida, o antigo presidente executivo e agora administrador não executivo Rui Carreira adiantou que esta se situava em 1,2 mil milhões de dólares (1,05 mil milhões de euros) e que foi possível ressarcir parte da dívida com fornecedores ligados ao Estado graças ao reforço de 700 milhões de dólares (612 milhões de euros) injectado pelo Estado angolano, que permitiu também à TAAG ficar com capitais próprios positivos.
Quanto à dívida com fornecedores estrangeiros, rondava os 250 milhões de dólares (218 milhões de euros), mantendo-se ainda próxima deste valor.
Folha 8 com Lusa